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Histórico Municipal



O povoador primitivo foi o português Manoel José de Aguiar que teria se instalado próximo a uma fonte local bem conhecida, a que dera nome de “Olho D’água das Bestas” (primeiro nome do município), porque era ali que os animais matavam a sede quando estavam pastando.

Para implantar suas atividades de desbravador da região, começou a derrubar matas e proceder queimadas a fim de preparar a terra para a plantação de culturas, entre elas, cana-de-açúcar. Para as áreas recém-desmatadas, ele mandava conduzir os seus animais ordenando: “Levem para as queimadas!”. Essa designação de espaço terminou por consagrar o nome “Queimadas” para a região que se expandia. Esse nome se consolidou no tempo, até mesmo após a criação do município. As casas foram, assim, surgindo, construídas, inicialmente, sobretudo, nos pontos mais elevados, como ocorrera com a Capela que se tornou a atual Matriz. O natural processo de herança foi dando margem ao aumento do povoado que crescia sob a jurisdição de Bom Jardim, que se tornara em município em 19 de maio de 1870, cuja instalação ocorreu em 19 de julho de 1871.

A expressão política de nossa localidade começou estar presente já na constituição do primeiro conselho municipal de Bom Jardim do qual participaram os queimadenses Abílio Aprígio de Souza Barbosa, José Rosa Lins de Aguiar e José Jovino de Farias Leite. Era, sem dúvida, uma representação política quantitativamente bem expressiva. E para melhor apreciação, vale indicar os nossos representantes no novo Conselho, com a respectiva votação:

Major Abílio Aprígio de Souza Barbosa - 398

Jerônimo Maximiano de Aguiar - 378

Major João Florentino da Cunha Azevedo - 398

Agostinho Barbosa de Aguiar - 177

Apenas um Distrito, contribuindo com tão forte representação no Conselho Municipal (atual Câmara de Vereadores), é bem indicativo de que já havia espírito político em nossa nascente comunidade. Foi, certamente daí, que se despertou o pensamento de desenvolver o povoado, preparando-o para a sua emancipação.

Assim pela Lei Municipal nº 21, de 07 de setembro de 1914, foi criado o Distrito das Queimadas, passando à condição de Vila, pela Lei de nº 47, de 16 de setembro de 1925.

As efetivas participações de filhos da terra em sucessivos Conselhos Municipais alimentaram sem dúvida, ideais de emancipação jurídico-administrativa. Com esse objetivo, houve a primeira reunião informal para discussão e tomada de providências, às 11 horas do dia 19 de janeiro de 1927, na casa do Major Abílio, convocado pelo Vigário Padre José Marques da Fonseca. Homem bem diferenciado e grandemente interessado pela criação do município, não foi difícil a esse sacerdote, coordenar a campanha, em franca e total colaboração com os políticos. A essa reunião compareceram as pessoas mais representativas do Distrito, sobretudo, senhores de engenho. Na ocasião, ficaram definidas as tarefas, ou seja, contatos com o Governador e divulgação pela imprensa.

Pela Lei Estadual nº 1.931, de 11 de setembro de 1928, assinada pelo Governador Estácio de Albuquerque Coimbra, foi a vila das Queimadas elevada à categoria de Município e a sede, à de cidade.

A partir daí, começou o progresso, observado em vários setores, sobretudo urbano, dentro do clima próprio a situações semelhantes que ocorreram em todos os municípios que se instalam.

Assinalando esses aspectos evolutivos, devemos registrar que, pelo Decreto-Lei 311 de 02 de março de 1938, foi efetuada revisão da toponímia dos municípios brasileiros, promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O nosso Município passou então, a denominar-se “Orobó”. A alegação apresentada para mudança, baseava-se no fato de já existir outro município na Bahia com o mesmo nome de Queimadas.

O nome Orobó surgiu devido à existência de um rio do mesmo nome que atravessa o município. O rio Orobó se dirige no sentido oeste-leste, cortando transversalmente o município, até encontrar-se com o rio Tracunhaém, na localidade Cedro.

Criado o município, no dia onze de setembro de 1928, como já registrado, as pessoas mais envolvidas na campanha pela sua emancipação trataram de tornar as providências atinentes à constituição da sua vida administrativa. Assinale-se que o Major Abílio Barbosa e o Padre José Marques da Fonseca, Pároco local, os lutadores maiores dessas campanhas, decerto haviam pensado em todas as minúcias nesse sentido. Assim, foi logo formado o Conselho Municipal, para preparar e efetivar a transição para o exercício pleno do poder constituído.

Esse Conselho era composto por Antônio da Matta Ribeiro, seu presidente, Antônio Bertino de Aguiar (seu Toinho), Joaquim Otávio Bezerra de Araújo, Severino Severo de Araújo Aguiar, Antônio Delgado Leal, todos eles pessoas das mais representativas da sociedade.

A eleição com a finalidade de escolher o primeiro Prefeito realizou-se dentro dos padrões da época: a céu aberto e a bico de pena. Infelizmente, não há, na Prefeitura, nem nos arquivos da Câmara de Vereadores, registro pormenorizado dessa eleição, que ratificou a vontade da população, elegendo a seu líder, o Major Abílio de Souza Barbosa, por sinal, candidato único.

O primeiro Prefeito era um homem com boa dose de espírito público e com experiência administrativa, uma vez que já havia sido Prefeito do município de Bom Jardim, no período de 1912 a 1915. Era muito ligado ao influente político local, médico Dr. Justino da Mota Silveira e contava, à sombra do seu prestígio, com acesso ao então Governador Dantas Barreto. Ao ser este substituído no Governo pelo Dr. Manoel Pereira Borba, por força do resultado da eleição, caiu momentaneamente, a força política do Dr. Mota Silveira e, consequentemente, a do Prefeito de Bom Jardim, a que estava ligado o nosso Distrito das Queimadas. Não obstante, ele completou o seu mandato. A experiência que então adquiriu, serviu-lhe para o exercício da futura administração da sua terra, que, um dia haveria de cair-lhe as mãos.

Homem de compleição física esbelta, elegante e com feições de beleza máscula, o Major Abílio se impunha, até, por essas características, se lhe faltassem outros atributos. Nessa época não havia viaturas motorizadas e, por isso, ele saía do povoado das Queimadas para dar expediente na sede do município, montando, sempre, belos cavalos, o que lhe conferia especial toque de imponência. Sempre acompanhado de um dos filhos, ora Jaime, ou mesmo José Mateus, ou Natúcio Barbosa (Tuta), ele entrava em Bom Jardim, como se cada dia fosse o primeiro, o dia de uma chegada vitoriosa, embora com pequeno séquito. Cerimonioso e comedido nas funções procurava, certamente, nessa ocasião, quando na companhia dos filhos, transferir-lhes ensinamentos políticos visando a prepará-los para vida pública, plantando, assim, as bases de uma escola político-familiar. Mas, o campo não era fértil. Os ensinamentos nem os exemplos foram assimilados. Diante disso, é francamente admissível que ele, pai de sete filhos varões, haja carregado essa frustração por toda a sua longa vida.

O Major Abílio era um homem singular. Se os cavalos de sua comitiva eram guapos e reluzentes, o cavaleiro principal disso tirava partido. Ao seu porte físico imponente e ao esmero na indumentária, ele ajuntava parcimônia nos gestos e no perfume que usava, invariavelmente. A moldura era, assim, bem ajustada ao espírito adornado.

No exercício do cargo de Prefeito, procurou, de logo, estimular a construção de casas, objetivando, com isso, aumentar a quantidade das existentes que eram na verdade, muito reduzidas. Aliás, esse era, também, um dos motivos alegados pelos bonjardinenses, contra a emancipação da Vila das Queimadas.

A administração do primeiro Prefeito que, pelas suas realizações iniciais, se prenunciava fecunda, teve, porém, vida curta, de vez que, assumindo o mandato em 15 de novembro de 1928, exerceu-o, apenas, até 03 de outubro de 1930.

Abílio de Souza Barbosa, figura patriarcal da nossa época. Primeiro Prefeito do Município de Orobó, em 1928. Nasceu em 26-02-1863 e faleceu em 30-01-1950.

Padre José Marques da Fonseca, de família nazarena, embora aparentemente de temperamento fechado, aos poucos se integrou, inteiramente, a tudo que dissesse respeito aos interesses maiores da coletividade. Havia nele, contudo particularidades que bem o marcaram. Postura imponente, em qualquer circunstância, marcava a sua respeitosa figura. Mantinha um ar solene, mormente quando presidia funções religiosas. Os seus sermões eram rebuscados de citações latinas embora dirigidas para ouvintes poucos letrados. Tinha atitudes professorais no curso das suas pregações, pondo sempre em relevo, que falava “ex-catedra”. “Falava da cátedra de São Pedro”, costumava dizer e de repetir, explicando, por fim, o seu significado.

Não se demorou a abraçar movimentos que iniciaram com vista à emancipação municipal, deles participando até ao momento final da vitória, em 11 de setembro de 1928, no governo estadual de Estácio Coimbra. Foi um excelente assessor do coronel Abílio Barbosa, chefe político local e vitorioso desse movimento no qual se envolvera com tanta determinação. Era muito benquisto pela população. Por conta disso, quando o bispo diocesano, Dom Ricardo Castro Vilela, excelente orador sacro, o transferiu para Timbaúba, houve muita insatisfação dos paroquianos que tentaram, infrutiferamente, impedir a sua saída.

Após deixar a nossa cidade, o Padre Marques da Fonseca só retornou, muitos anos depois, para participar das festividades comemorativas do cinqüentenário do jubileu de prata da emancipação político-administrativa do município, ocorridas em setembro de 1953. Nessa oportunidade, foi homenageado em solenidade ocorrida na sede da Prefeitura. Seu tempo de permanência foi de 22 de junho de 1923 a 04 de janeiro de 1929. Foi, em verdade ser o novo vigário de Timbaúba.